Animais idosos não perdem neurônios, indica estudo.
Trabalho constatou divisão celular em cobaias mais velhas, algo considerado impossível há alguns anos.
Trabalho constatou divisão celular em cobaias mais velhas, algo considerado impossível há alguns anos.
Um estudo realizado por
pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em preás mostrou que,
diferentemente do que se imaginava, animais idosos não sofrem redução do número
de neurônios do sistema nervoso autônomo periférico - a parte do sistema nervoso
situada nos diversos órgãos do indivíduo e fora do cérebro.
O estudo foi publicado no
International Journal of Developmental Neuroscience - revista de referência da
Associação Internacional da Neurociência do Desenvolvimento.
O trabalho corresponde à tese de
mestrado conduzida por Aliny Antunes Barbosa Lobo Ladd na Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, com Bolsa da FAPESP e sob a supervisão
do professor Antonio Augusto Coppi, responsável pelo Laboratório de
Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia
da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ-USP).
O estudo se soma a uma série de
trabalhos do grupo que reforçam a tese de que os animais idosos não sofrem
necessariamente redução do número de neurônios. “Além disso, o trabalho teve o
mérito de observar neurônios se dividindo em animais idosos - algo que há
alguns anos era considerado impossível na literatura médica”, disse Coppi à
Agência FAPESP.
De acordo com Coppi, já é
possível afirmar que o envelhecimento não corresponde necessariamente a uma
condenação à perda de células nervosas. Essa perda, segundo ele, era um dogma
da neurociência há algumas décadas.
“De 1954 a 1984, vários
trabalhos indicavam que havia perda de neurônios durante o envelhecimento. Mas
atribuímos essa conclusão ao método bidimensional utilizado na época para
quantificar as células nervosas. A partir de 1984, quando um grupo da Dinamarca
publicou o primeiro trabalho utilizando o método de estereologia em três dimensões
chamado de ‘Disector’, a contagem de células em geral passou a ser muito mais
acurada e precisa”, explicou.
Desde então, a comunidade
científica internacional começou a refazer os trabalhos realizados nas décadas
anteriores, com resultados mais acurados, mas os estudos em geral são voltados
para o sistema nervoso central. Os trabalhos na FMVZ-USP são voltados
especificamente a neurônios do sistema autônomo periférico, procurando
confirmar as conclusões dos demais estudos realizados no cérebro.
“Iniciamos essa linha de pesquisa
em 2002 e esse é o sétimo trabalho internacional que publicamos sobre o tema.
Estamos confirmando por meio desses estudos que o número de neurônios do
sistema nervoso periférico não diminui necessariamente durante o envelhecimento.
Ao contrário, na maior parte das vezes se mantém estável”, disse Coppi.
Divisão celular
O grupo já realizou estudos com
ratos, cobaias, cavalos, cães, gatos, capivaras, pacas, cutias e, agora, preás
- incluindo estudos com modelos de doença de Parkinson e de doença de
Huntington. No caso dos preás, aos três anos e meio os animais são considerados
idosos.
“Por meio dos métodos
imuno-histoquímicos associados à estereologia, pudemos detectar neurônios
uninucleados e binucleados em pleno processo de divisão em animais idosos.
Nossa hipótese é que o número de células nervosas que se dividem é maior que o
número de neurônios que morrem e isso permite que o número total de neurônios
permaneça estável”, disse Coppi.
Em meio aos muitos modelos
animais estudados pelo grupo nos últimos dez anos, só uma exceção foi
registrada: as cobaias. “No caso das cobaias tivemos uma redução de 21% no
número total de neurônios entre os animais idosos. Não sabemos explicar as
causas dessa redução. Em compensação, no caso do cão, houve um aumento incrível
do número de neurônios em animais idosos: 1.700%”, afirmou.
Apesar da exceção, o conjunto dos
estudos mostra que a tendência na velhice é uma estabilidade ou aumento do
número total de neurônios. “Esse dado por si só quebra o dogma de que o número
de neurônios deveria necessariamente diminuir”, afirmou.
O diferencial do estudo com os
preás, segundo Coppi, é que pela primeira vez foram observados neurônios do
sistema nervoso autônomo em pleno processo de divisão celular, os quais foram
quantificados em três dimensões pelo método estereológico do fractionator
óptico.
“Dessa vez utilizamos marcadores
imunohistoquímicos especiais para detectar as células que estavam se dividindo.
Mostramos que o número de células em divisão é uma proporção constante em cada
faixa etária. Assim, o número total de células se mantém exatamente o mesmo em
cada uma das quatro faixas etárias que observamos: animais neonatos, jovens,
adultos e idosos”, explicou.
Fonte: Agência Fapesp