Cientistas usam técnica simples para criar células-tronco
Cientistas do Japão e dos EUA descobriram uma receita que parece ridiculamente simples para fazer com que células adultas voltem a um estado semelhante ao embrionário: basta aumentar um pouco a acidez do meio onde elas estão sendo cultivadas.
Poucas horas de exposição a um meio levemente ácido (pH de 5,5, enquanto o normal da água é 6) foi suficiente para "reprogramar" células dos mais diferentes tecidos de camundongos, do sangue ao fígado, relata a equipe liderada pela japonesa Haruko Obokata e pelo americano Charles Vacanti na revista científica "Nature".
Essa conquista é um sonho antigo dos pesquisadores que estudam a chamada diferenciação celular, ou seja, o processo que faz com que uma única célula, a do óvulo fecundado, dê origem a uma miríade de tipos celulares especializados, com forma e função próprias.
Afinal, a possibilidade de controlar esse processo permitiria, em tese, a produção de órgãos sob medida para transplante. Seria necessário apenas fazer uma biópsia de pele do paciente, por exemplo, e as células da epiderme seriam transformadas, em laboratório, nos tecidos "de reposição" necessários - sem riscos de rejeição, já que, do ponto de vista genético, elas seriam idênticas ao resto do corpo do paciente.
SEM DNA EXTRA
A reprogramação de células adultas já é rotineira hoje, mas os métodos atuais exigem a inserção, no DNA dessas células, de alguns genes a mais, sabidamente ligados à versatilidade (ou "pluripotência", como dizem os biólogos) das células embrionárias.
Isso é visto como um empecilho para o uso das células reprogramadas em pessoas, já que há o temor de que o DNA extra possa afetar a estabilidade dessas células.
Para contornar esse problema, Obokata, que trabalha no Centro Riken de Biologia do Desenvolvimento, partiu do princípio de que esse tipo de reprogramação celular parece acontecer em células de plantas e de salamandras expostas a fatores estressantes, como a acidez.Como forma de testar a ideia, ela usou células do sangue de camundongos transgênicos, cujo DNA foi modificado com a presença da receita para a produção da GFP, substância que dá um brilho verde fluorescente aos bichos.
Aí é que está o pulo-do-gato (ou do roedor): a receita da produção da GFP foi "colada" a um gene que só fica ativo em células embrionárias ou reprogramadas. Ou seja, a proteína só "acenderia" se esse gene também fosse "ligado", indicando que a reprogramação tinha dado certo.
Foi o que aconteceu quando as células foram expostas à acidez. Vários testes mostraram que elas eram capazes de assumir a função dos mais diversos tecidos do organismo. De início, os cientistas tiveram problemas para multiplicá-las em laboratório, mas o uso de um "caldo" especial destinado à nutrição de células embrionárias pareceu resolver essa questão. "Nossos achados sugerem que, de alguma forma, por meio de um processo de reparo natural, o estresse causado pela acidez leva as células a desligar os controles que as impedem de voltar ao estado embrionário", resumiu Charles Vacanti, que trabalha na Escola Médica de Harvard.
"Se isso funcionar em seres humanos, será a descoberta capaz de virar o jogo e disponibilizar terapias celulares que usam as células do próprio paciente como ponto de partida", declarou Chris Mason, chefe de medicina regenerativa do University College de Londres (Reino Unido). Essa é a próxima grande pergunta: células humanas também reagirão dessa forma? Os cientistas também querem entender outro mistério: por que outras situações estressantes que as células enfrentam, dentro e fora do laboratório, aparentemente não são suficientes para desencadear o mesmo efeito.
Poucas horas de exposição a um meio levemente ácido (pH de 5,5, enquanto o normal da água é 6) foi suficiente para "reprogramar" células dos mais diferentes tecidos de camundongos, do sangue ao fígado, relata a equipe liderada pela japonesa Haruko Obokata e pelo americano Charles Vacanti na revista científica "Nature".
Essa conquista é um sonho antigo dos pesquisadores que estudam a chamada diferenciação celular, ou seja, o processo que faz com que uma única célula, a do óvulo fecundado, dê origem a uma miríade de tipos celulares especializados, com forma e função próprias.
Afinal, a possibilidade de controlar esse processo permitiria, em tese, a produção de órgãos sob medida para transplante. Seria necessário apenas fazer uma biópsia de pele do paciente, por exemplo, e as células da epiderme seriam transformadas, em laboratório, nos tecidos "de reposição" necessários - sem riscos de rejeição, já que, do ponto de vista genético, elas seriam idênticas ao resto do corpo do paciente.
SEM DNA EXTRA
A reprogramação de células adultas já é rotineira hoje, mas os métodos atuais exigem a inserção, no DNA dessas células, de alguns genes a mais, sabidamente ligados à versatilidade (ou "pluripotência", como dizem os biólogos) das células embrionárias.
Isso é visto como um empecilho para o uso das células reprogramadas em pessoas, já que há o temor de que o DNA extra possa afetar a estabilidade dessas células.
Para contornar esse problema, Obokata, que trabalha no Centro Riken de Biologia do Desenvolvimento, partiu do princípio de que esse tipo de reprogramação celular parece acontecer em células de plantas e de salamandras expostas a fatores estressantes, como a acidez.Como forma de testar a ideia, ela usou células do sangue de camundongos transgênicos, cujo DNA foi modificado com a presença da receita para a produção da GFP, substância que dá um brilho verde fluorescente aos bichos.
Aí é que está o pulo-do-gato (ou do roedor): a receita da produção da GFP foi "colada" a um gene que só fica ativo em células embrionárias ou reprogramadas. Ou seja, a proteína só "acenderia" se esse gene também fosse "ligado", indicando que a reprogramação tinha dado certo.
Foi o que aconteceu quando as células foram expostas à acidez. Vários testes mostraram que elas eram capazes de assumir a função dos mais diversos tecidos do organismo. De início, os cientistas tiveram problemas para multiplicá-las em laboratório, mas o uso de um "caldo" especial destinado à nutrição de células embrionárias pareceu resolver essa questão. "Nossos achados sugerem que, de alguma forma, por meio de um processo de reparo natural, o estresse causado pela acidez leva as células a desligar os controles que as impedem de voltar ao estado embrionário", resumiu Charles Vacanti, que trabalha na Escola Médica de Harvard.
"Se isso funcionar em seres humanos, será a descoberta capaz de virar o jogo e disponibilizar terapias celulares que usam as células do próprio paciente como ponto de partida", declarou Chris Mason, chefe de medicina regenerativa do University College de Londres (Reino Unido). Essa é a próxima grande pergunta: células humanas também reagirão dessa forma? Os cientistas também querem entender outro mistério: por que outras situações estressantes que as células enfrentam, dentro e fora do laboratório, aparentemente não são suficientes para desencadear o mesmo efeito.
FONTE: REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO